Chame essa coisa, sim, ela mesma! Chame algo que me empurre ou que me salve, no drama doce e sólido dessa indecisão sobre ser gente. Chame essa coisa sem nome, sem sobrenome. Essa coisa de identidade desconhecida, de chama quente e gélida. Chame essa contradição tão cheia de certeza. Foi essa coragem que o meu medo me trouxe e que me levou à fatalidade de ser gente.
Traz depressa, essa pluma esvoaçante lá do alto. Chama esse negócio misterioso que o meu peito invade e neutraliza. Pega a parte sólida dessa coisa e a traga mais pra perto, quero preencher esse vazio alojado aqui por dentro. Eu tenho urgência de sentir, de senti-la, de tocar...
Quero rasgar esses soluços interrompidos, rasgar papéis já sem sentido, morrer de novo e nascer sem mais feridas. Não quero mais andar descalça por ruas vazias, observar matrizes já se esvaindo, ainda que eu queira, é preciso mudar a tinta. Esse opaco todo já me desgasta, esta funerária interna que é tão sombria, foi só avesso que se exacerba.
É um apelo, e é tão sincero...
Traz essa coisa que eu tanto quero; razão de rosas perfumadas pelos cantos. Sobrevivência nesse pântano indiscreto, de vultos soltos espalhados, de faces molhadas por tanto pranto. Chama esse negócio desconhecido de uma vez, que ele venha e traga um pouco de felicidade, porque viver com um vazio é só viver pela metade.