quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O abismo de nós dois

   E o que você faria se eu te dissesse que te amei enquanto te odiava?

   As velhas manias assumiram um lugar fora de meu domínio enquanto você despertava em mim algo desconhecido. E eu te odiei, mas do que a qualquer outro inimigo.
   Você é o inimigo de meus pilares, antes erguidos, hoje no chão. Inimigo de meus dias, antes tão enfeitiçados por suas loucuras. Inimigo das minhas veias, que já bombearam um sangue mais vermelho antes. Falso amigo de meus risos constantes. Inimigo da matéria, da substância, do abstrato de minha subjetividade, essa que você moldou com tantas características suas e que eu odeio.
   Você destruiu o meu sol, pintou com cores macabras minha lua. Derrubou meus muros e ergueu pontes, nas quais você, odiosamente me obrigou a atravessar sozinha. Seus olhos desenharam duas íris novas no meu, e hoje, te vejo sobre um reflexo único. E você me fez pular do mesmo penhasco infinitas vezes, e eu pulei porque te odiava, com um ódio superior a seus braços que sempre me seguravam a cada queda.
   E eu te amei por te odiar tanto. Te amei porque as pontes que você construiu me levaram a seus lares internos e, por me fazer atravessar sozinha, eu tive que me agarrar ao ódio para amar-te sempre mais. Eu te amei pelo ódio que senti quando você partiu, porque eu estive esperando por você em toda sua ausência. 
   E te odiei enquanto te amava, porque meu amor sempre foi ter a esperança da volta, a lembrança de cada noite, o choro em cada travesseiro, a queda sempre segura. O meu ódio foi odiar o seu amor quando o meu ser amava cada vez mais o teu ódio. E mesmo quando suas palavras doces me levavam para o abismo de nós dois, eu te amava, por que a mais pura verdade é que, eu te amei enquanto te odiava.
   E você me odiou por amar tanto o meu ódio...


Blq-
Edição Musical.

13 comentários:

  1. "e vc me odiou por amar tanto meu odio.."


    suas palavras sempre me leva junto...sempre começo imaginar...mas elas nunca tem um rumo, são sempre imprevisiveis...e eu sigo na sua leitura e sempre me surpreendo.. e sempre me coloco, e sempre me perco

    e me perdendo sempre me contro um pouco mais..

    LIndo o texto!

    beijos com carinho!

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  2. Oi Jay, tudo bem amiga?
    Creio que o ódio é excesso de amor. Os dois sentimentos tem origem na mesma parte do cérebro, e assim se separam, às vezes um ou outro, na mesma situação, para a mesma pessoa.
    Lindo, amiga!

    Te convido a ler um poema que o Jorge Pimenta dedicou a mim, neste link: http://viagensdeluzesombra.blogspot.com/2011/08/etiquetas-xv.html#comments

    No demais, obrigada pela presença constante e vai me contando tudo que está acontecendo, tá bom?
    Ah! Outro dia queria te passar um e-mail, mas sou tão "dinossaura" rsrsrs que tenho teu MSN e não sabia como me comunicar, acredita? Como vejo teu e-mail? rsrs (não ri, Jay!!!) :)
    Beijoosssss

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  3. Saudade das suas palavras, elas sempre me levam ao máximo da imaginação. Não sei o que faria se acontecesse isso comigo. Amei Jay, beijos.

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  4. Amor e ódio andam juntos, embora sejam opostos. Um dá a razão do outro existir...
    Gostei do post!

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  5. Belo paralelismo entre as duas grandes forças sentimentais da humanidade - dois sentimentos tão antagônicos e próximos... unidos por um passo, separados por um abismo de variações sobre o mesmo tema.

    Beijo terno.
    Fraterno abraço!

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  6. E esse ódio do oposto que nos é familiar, a nossa fascinação pelo medo que nos faz ter coragem, da solidão que nos é imposta para que possamos enxergar que precisamos de uma companhia por maior que seja o orgulho. E eu odiei amando, odiei o fato de carregar em mim aquele sentimento tão proibido e tão independente do meu querer. E odiei também este texto que descreveu também um fato ocorrido num passado não tão distante. Parabéns Jaynne, tum beijo. :*

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  7. o amor e o odio andam de mão dadas, um sempre leva o outro..

    por mais q o amor seja miul vezes bem melhor do que o odio..
    ^^

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  8. Uau.
    O amor e o ódio estão sempre juntos, um dia você odeia e no dia seguinte você percebe que ama quem você odiava a poucas horas atrás.
    Um lindo texto,como todos os outros seus.
    http://senhoritaliberdade.blogspot.com/

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  9. No mesmo coração que há amor, há o sangue, e este escorre enquanto pulsa, machuca e faz a felicidade ser sólida, modifica tudo que havia dentro de si, sangra o ódio e pulsa o ser que ama; faz com que palavras se tornem "o abismo de nós dois"

    Como sempre, insisto e digo: Jaynne 100%

    www.urbandept.blogspot.com

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  10. Como já disse alguém: há uma linha tênue entre amor e ódio...

    Texto forte, marcante. Me vi em algumas passagens dele, como se eu já tivesse experimentado essas sensações. E acredito que experimentei sim.

    Gostei muito!!!

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  11. Jay, a princípio, achamos que amor e ódio não se equiparam, mas após um exame mais profundo, perceberemos que o paradoxo desaparece na cognação semântica das palavras pois são irmãs como a vida e a morte.

    Parabéns pelo poema em prosa e pelo talento!

    Obrigado pela visita e comentário solidário e lúcido no meu blog!

    Um grande abraços!

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  12. As vezes, o que mais amamos é o motivo da nossa maior decepção, pois simplesmente não conseguimos odiar.
    A maior fraqueza que possuímos é o fato de não conseguir deixar de amar (ou amar menos) tudo aquilo que realmente tem uma parcela imensa em nossa vida.
    Em todo caso, o necessário nesses momentos é saber aproveitar todos os dias, como se fosse o ultimo. Fazer com que as lembranças se tornem motivos expressos de alegria, saber que tudo que foi construido tem um porque e é por esse porque que se vive uma vida capaz de derrubar todos os muros da discórdia, tristeza; acabar com todo e qualquer tipo de obstáculo que possa surgir e viver.
    Viver apenas para sorrir e amar.
    Pois sem sorrisos não há felicidade.
    E sem amor não há vida.

    Seus textos me proporcionam uma reflexão unica Jay. Muito obrigado por isso. Tenho um prazer enorme em vir aqui!

    Um grande beijo.

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  13. Não dever-se-ia haver quaisquer abismos quando há amor; por vezes temos de amar mesmo a face mais obscura do outro, e quando esta face é abismo, ai torna-se evidente que amamos o nada, o abismo, o vazio, até porque o amor está presente mesmo no vazio, e ainda sim nosso eu tende a odiar tempo depois de amar o lado escuro de nós mesmos e do outro. qual abismo nos separa? tao somente a inaceitação do outro... tao somente muitas coisas e nada ao mesmo tempo.......

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