sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Sequestro das Palavras

   Fiquei mudo. Calado perante a confusa frieza instalada no coração dela. Calado diante do meu desespero. Incapaz de pronunciar uma única palavra, essas que antes me vinham com tamanha facilidade... Fugiram.

   Ela mantinha seus olhos vazios sobre os meus tão cheios de medo. E de alguma forma o silêncio era quebrado, sem som, sem palavras. Quebrado como quem quebra os fios frágeis da confiança em si mesmo. Eu não me sentia mais seguro perante a minha subjetividade. Ela me desarmou, me deixou indefeso ao silêncio mortal. Foram-se as minhas palavras.

   Eu a havia dito antes que um poeta amava para escrever sobre o desamor e sofria pra falar de amor. Pelo menos, sempre foi assim comigo. Mas e agora? Que sentimento é esse que ela me causa que nada escrevo e nada falo? Eu a alertei de minha bipolaridade emocional. Bipolaridade de quem vive o que não se sente, de quem empresta o corpo a um personagem. Alertei e falei sobre toda essa confusão poética.

   Eu já quis fugir dessa situação na qual nos colocamos. Eu já tentei de tudo, mas ela não deu ouvidos. Acho que no fundo ela sabia como desarmar um poeta. Como sequestrar suas palavras.

   Virou-se indiferente, dando-me as costas como quem oferece flores. Flores de um perfume meio doce, meio ácido. Deu alguns passos. Continuei calado, parado, vazio de mim. Ela pegou algo, virou-se de volta como quem retira as flores. Voltou devagar, olhos como brasa acesa.

   Tocou minha mão com delicadeza e a estendeu sobre a sua. Com a outra mão ofereceu-me papel e caneta. Eu a encarei um tanto assustado, mas segurei o papel. Ela se aproximou ainda mais. Meu coração pulsou forte. Encostou seus lábios quentes em meu ouvido e sussurrou: “Fale de amor, meu amor.” Estremeci. Aquilo era um adeus? Não importava, o papel me seduziu novamente, e como poeta apaixonado eu me rendi, minhas mãos conduziram a caneta num tango ardente. 


De quem nas linhas românticas sofre.

De quem ama e entrega-se ao desamor.

Tu sequestras minhas palavras

Tornando-me poeta sem pudor.


-Pauta para o Bloínquês- 66ª Edição conto-história.

10 comentários:

  1. LIndo Jaynne,
    este final, não só encerrou a ideia inteira, como deu um brilho, o "sequestro das palavras" o "poeta sem pudor"!!!

    Amiga, ontem (quinta), deu um "bug" no sistema blogger, percebi que meu comentário anterior sumiu! Pena! Mas não vou ter tempo agora de comentar de novo.
    Beijos

    http://anaceciliaromeu.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Amei seu blog..
    Mutio bom :B
    Parabéns !!!
    beijãoo

    ResponderExcluir
  3. Lindo,lindo, lindo. E vc sequestra as minhas palavras com as suas perfeitamente escritas e combinando cada letra. muito lindo msm...bjk

    ResponderExcluir
  4. QUER PARECER-ME QUE O POETA SEQUESTRA SIM AS PALAVRAS, AO TEMPO EM QUE É SEQUESTRADO POR ELAS, QUE SE ESCONDEM E BRINCAM DE VALSAR UMA DANÇA POR NÓS DESCONHECIDA. AQUI PARECE CLARO O FINGIMENTO DO POETA: FALAR DE DESAMOR QUANDO SE AMA, DE DOR, ESTANDO APAIXONADO.... MAS A CANETA PEDE, E O POETA ESCREVE, DEVANEIOS....SEM O MENOR PUDOR... LINDO TEXTO, CONTO/HISTÓRIA E ADIANTO QUE JA É UMA GRANDE HONRA ESTARMOS JUNTOS NESSA PARTICIPAÇÃO. IMPOSSÍVEL, INJUSTO E DESNECESSÁRIO NOS COMPARARMOS, PORQUE TRABALHAMOS EM BASES DIFERENTES, MAS DIGO: ENALTECIDA SEJA A POESIA QUE HÁ EM CADA UM DE NÓS!

    ResponderExcluir
  5. Essas tuas palavras cheias de sentimentalismo me ganham nas primeiras linhas redigidas. Palavras convidativas, cheias de poesia e encanto. Não tem como não gostar de ler algo assim, não tem como não prender-se em suas linhas.

    E esse seu texto contém toda a alma de um poeta que sabe o que é sofrer de amor, e sabe o que é sentir-se perdido em seus enlaces. Lindo Jay, de verdade.

    Um beijo.

    ResponderExcluir
  6. O Poeta amando escreve o desamor no qual não o vive. Uma bela mulher sequestra nossas palavras e nos devolve ainda mais belas, fazendo-nos escrever lindos contos de amor...

    Amei Jay...
    Beijo..

    ResponderExcluir
  7. PARABENS AMIGA JAYNNE! ACHO QUE NOSSA DIFERENÇA ENTRE 2 E 3 LUGAR, OU MESMO O 1 FOI DE POUCA COISA, UM DETALHE AQUI E LÁ. ESTAMOS DE PARABENS!

    ResponderExcluir
  8. Lindo Jaynne! Acho tão incrível a forma que você descreve os sentimentos dos personagens transmitindo-os para o leitor. Você tem uma forma de me focar na leitura, acho que já falei isso alguma vez não é? Rs.
    Lindo mesmo viu, o poeta vive do seu amor, a ligação de tudo que escreve é essa, não é?
    Gostei mesmo! Um beijo *-*

    ResponderExcluir
  9. Hmm...

    nesse caso, é escrevendo que a gente se encontra...ou acha as respostas.

    ResponderExcluir

Dúvidas ou contribuições?
Deixe seus rabiscos aqui também...