sábado, 4 de junho de 2011

Ao Desconhecido


   Você se esconde entre os escombros de lugar nenhum. Anda de um lado a outro na rua vazia. Fica num meio termo de paredes invisíveis; debaixo de um teto que vive desmoronando; num esconderijo... No meu. Você fecha os olhos enquanto eu te encaro, e eu sei de tudo o que passa na sua cabeça nesse instante. Você fica mudo, e o seu silêncio outra vez me pertence.
   Surge da plena escuridão e me assusta outra vez. Desaparece e me deixa tonta; confusa com meus próprios sentimentos. Em cada esquina um rastro seu, de sua existência desconectada desse mundo alheio a nós dois. Porque você me mostrou um novo. E eu me balanço de um lado a outro nessa corda que fica entre esse mundo chato ao qual eu pertenço e o seu mundo estranho ao qual você me puxa.
   Seus olhos frios me alertam outra vez para o incomum, e você me odeia por eu te conhecer tão bem. E eu sou a única capaz disso. Sou a única a te puxar das sombras; a te fazer revelar a face sobre a luz do poste.
   Eu não sei onde você fica quando não está comigo, mas na minha frente eu te conheço bem. Você é o desconhecido de todos. Anda na noite, como um ladrão, e você me roubou. Deixou-me extasiada num mundo irreal.  Você alivia minhas dores e enxuga minhas lágrimas. Envolve-me em seu abraço terno e protetor, e você me ama por eu te conhecer tão bem. E todos desconhecem a sua existência. Ninguém desconfia desse desconhecido que eu conheço, ao qual eu pertenço.
   E você me alerta novamente que tenho que voltar ao meu mundo e me segura forte sem querer me deixar partir. Me abraça e juntos dividimos a mesma dor, mas nós dois sabemos que estamos ligados por algo mais forte que toda essa diferença.
   E você aparecerá novamente no escuro da noite, numa esquina qualquer, tentará se esquivar da luz do poste, me puxará para as suas sombras, se esconderá como um ladrão - Vai me roubar novamente... Porque meu desconhecido, eu te conheço muito bem.

- Ao que anda nas sombras noturnas,
 e me pertence.

14 comentários:

  1. São esses 'desconhecidos' que muitas vezes nos tiram o chão... Mas, nos complementam e é isso que faz valer a pena, estejam perto ou não. E isso é bom!

    Até!

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  2. São esses desconhecidos que nos tiram da realidade, assim como disse a Barbara, mais as vezes vale a pena viver em um mundo irreal, só as vezes.
    Parabéns pelo lindo texto, e mais sucesso.
    http://senhoritaliberdade.blogspot.com/

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  3. Coragem essa de pertencer ao que não se conhece. Um risco; uma vontade; uma verdade. Porque logo de início, acredito que todos sejam um pouco de mistério.
    É como descer uma escada no escuro, você não vê o degrau, e quando mergulha o pé na escuridão vem aquele frio imediato, até que o degrau é encontrado, e você se sente segura novamente. Mas, não é apenas de pisos planos que nós vivemos, não é mesmo? De qualquer modo, o desconhecido é sempre muito convidativo para quem tem sede de conhecimento.

    Um beijo, Jay.

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  4. Que criatividade!Eu adorei!

    desculpa não ter comentado antes tá?
    http://imodelblog.blogspot.com/

    Bjooos

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  5. Tem de haver muita coragem para pertencer a um desconhecido..E mesmo assim o conhecendo tão bem partilhar de um mundo de dois.

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  6. há mais coisas ocultas num coração desconhecido, e num amor novo, ou numa oportunidade, ideia, sentimento... do que em qualquer outro lugar. amar o que nao se conhece, aceitando o desafio, é a perfeita coragem do ser humano. relembro Jesus, que a nós se entregou por amor,mesmo sabendo do nosso egoísmo em não aceitá-lo.... espero que este desconhecido se encante com sua luz e voce possa trazê-lo para essa luz, e fazer com ele um mundo novo, só de voces dois.... um grande abraço, à poetisa que eu mais "amo" e sou fã. que suas palavras continuem sempre a embalar encantos a quem lê!

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  7. Desconhecido é uma palavra tão caracterizante de todos os nossos sentimentos, dos nossos pensamentos e de toda nossa vida. Vivemos sem saber por que, para que e até quando, mas mesmo assim vivemos em meio a um escuro. Incrivel que a maioria das pessoas não consegue fazer com que essa incerteza passe a ser uma certeza. Até diria que conhecer o desconhecido seria muita hipocrisia da minha parte, porque por mais que queremos, nunca vamos saber tudo, mas por enquanto podemos saber VER e distinguir o desconhecido que influencia de forma boa ou não na nossa vida.

    Jay, você é uma das pessoas que mantenho maior carinho aqui no blog. A maneira com a qual escreve me cativa demais, além de me fazer sair daqui com um conhecimento, uma vontade de querer saber mais muito maior do que é imaginável a minha pequena mente. De toda forma, toda admiração que tenho por você, sei que é válida. É um prazer ter alguém como você no meu blog, suas palavras são de extrema importância para mim. Muito obrigado por tudo. Você é uma fofa!

    Um grande beijo, com carinho.

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  8. Desconhecidos podem nos ser tão bons e as vezes tão maus. Mesmo que a nossa ligação com eles se limitem a um olhar.


    Adorei o texto, guria. Escreves muito bem. (Acho que já te falei isso, mas tudo bem.)
    http://worse-or-better.blogspot.com/

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  9. Ah, é de uma delícia ler você sabe... Tem uma coisa que envolve, meio sombria mesmo, noturna... Lindo!

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  10. LINDO! Simplesmente maravilhoso!
    Suas palavras são inspiradoras e emocionantes!
    Beijos!

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  11. Oi Jay, tudo bem minha amiga?
    estava com dificuldade de vir por aqui também, te agradeço profundamente teu comentário por lá, tão lúcido, inteligente e maduro, a respeito da feira do Livro.

    Sobre teu post: "desconhecido, eu te conheço muito bem". Maravilhoso!
    Esses desconhecidos... que como filme que vimos repetidas vezes, nos tiram do chão!

    Beijos amiga, ótima semana!

    Humoremconto
    http://anaceciliaromeu.blogspot.com

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  12. E no silêncio de um grito reverbera a beleza da ausência a qual se faz presente na figura do desconhecido.

    Você é especialista em uma escrita mágica e envolvente... a qual enebria, encanta seus leitores. Isso é raro.

    Beijo terno e fraterno abraço.

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  13. Que texto lindo! Me lembrou de alguém que pensei conhecer, mas no fundo, era alguém bem diferente ;s

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  14. E quem se apega ao seu desconhecido, conhece-se melhor, em cada esquina descobre-se, o seu desconhecido vem a tona.

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