quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Recuso-te



Recuso-te.
Deixo-te nos lares malditos desse pesadelo mascarado.
Empurro-te de um penhasco e morrerei lentamente em sua queda maligna.
Você não sentirá os meus dedos, nem o amargo som de minhas palavras.

Recuso-te.
E você continua se vestindo de dor.
Enlouquecendo nessa insanidade...
Onde seus passos te levam para sua morte interna e irrefreável.
Seus braços e pernas doentes. Sua cabeça errante.
Seus olhos cegos; sua voz muda; ouvidos invadidos pelo iníquo.
E, essa normalidade nos assustando.

Recuso-te.
Descendo os degraus de uma escada imunda.
Para baixo! Para baixo!
Por que não sobe de volta?
Vamos! Arraste esses pés doentes para a cura.
Alguém nos espera no primeiro degrau.

Recuso-te.
Enquanto o medo se dissolve em rebeldia.
Enquanto o sonho se transforma em utopia.
Recuso-te, porque me desconstruo nos seus passos,
Em direção a um penhasco, no qual te espero.
Empurro-te, talvez com palavras falhas.

E, te aceito...
Caso sua queda te cause muita dor.
Meus olhos, talvez, recompensem a luz escondida dos seus.
Mas... Porque não sobe de volta?


Um breve aviso: Por justa causa estarei me ausentando por um período mais longo do que o de costume. Espero, sinceramente, não ter que fechar o blog, porque é algo que me faz bem, muito bem. Procurarei comentar nos blogs que costumo frequentar, sempre que eu puder. Mas, é em prol de outro sonho que deixo esse mais distante de mim um pouquinho. Grata pela compreensão de todos,  espero postar e comentar em breve!                                                                                                                                            

domingo, 18 de setembro de 2011

Eu não me acostumo


   Eu disse muitas vezes que somos capazes de nos acostumar com tudo: Com a pouca comida, com o frio, o sono... Mas, quer saber de uma? Eu não me acostumo!
   Eu não me costumo com a falta de atenção, de caráter, de amor. Não me acostumo com os sorrisos, abraços e palavras falsas, enganosas. Nem tampouco com atitudes indóceis, secas e cheias de veneno. Eu não posso me permitir a acostumar-me com esse mundo desumano, inverso, desajustado.
   Eu sei que somos humanos e que erramos, mas já passamos disso. Já nos acomodamos no erro e assim já ficou mais fácil magoar, esquecer, fugir. Já ficou fácil ignorar, esquecer do real sentido da vida. Qual o sentido da vida? Encontro várias respostas para essa pergunta tão simples, e é justamente esse o problema, pois só existe uma resposta fiel para ela.
   Eu não me acostumo com as distorções de humanidade, com todo esse processo invertido. Onde foi parar a essência de sermos humanos? Não me acostumo com todos esses espelhos rachados que refletem uma imagem em pedaços, imagens do que somos, mas não deveríamos ser... E não deveríamos simplesmente porque nos deixamos levar pela leviandade que já parece tão normal.
   Eu não me acostumo com o dinheiro esmagando sentimentos. Também não me acostumo com falsos sentimentos. Eu não sou obrigada a aceitar a covardia defasadora de seres desumanos. Covardia de quem abandona, vira as costas e se vai sem se preocupar com o coração do outro, tão pulsante e vivo quanto o seu próprio. Covardia de quem se esconde dentro de si mesmo tentando provar a todo custo o que não se é, sendo o que de mais cruel pode ser.
   Eu não quero me acostumar com o medo que me impede de dar passos contra tudo e contra todos. Eu não quero me acostumar com a insegurança de gritar, porque o silêncio descasca aos poucos a minha voz e muda eu nada sou. Eu também não quero me acostumar com a insegurança do silêncio, porque os gritos ensurdecem a mim mesma por vezes.
   Eu só queria ter o costume de ouvir sempre um bom dia dos desconhecidos que eu só posso conhecer quando humanos, de sentir um abraço amigo sempre quando a inquietação de ser gente me bater destrutiva.  Eu só quero me acostumar com os sorrisos meigos e despreocupados de pessoas felizes de verdade pelo simples motivo de acordarem e sentir o sol a iluminar, a chuva a lavar e a lua a clarear o céu escuro.
   Eu só queria ter o costume com a ordem natural dos fatos. A delicadeza e gentileza dos atos. Ao perfume das flores cobrindo toda e qualquer malevolência. Eu só quero me acostumar com o olhar infantil a penetrar-me e depositar em mim o desejo de ser mais: Mais eu mesma; mais humana; mais dócil; mais vigilante com o coração alheio; mais meiga; mais pelos os outros para me sentir felizmente completa. Eu só quero me acostumar com um mundo que eu sei que talvez nunca exista de verdade, mas é o mundo que eu carrego dentro de mim.
   Porque no fim eu sei que, o real sentido da vida estar Nele... Naquele que quando fez o mundo também queria não se acostumar como ele estar agora e ainda guarda a esperança de poder sentir e querer se acostumar com o Amor que já estar escasso em sua essência ÚNICA, um Amor diferente da maioria das coisas que eu vejo hoje, porque o amor que eu vejo é um amor esquecido, esmagado, distorcido...
   Eu quero me acostumar com um Amor que quando existente é paciente, é benigno, um amor que não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. Não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera; não se ressente do mal. Eu quero me acostumar com um Amor que tudo sofre; tudo crê; tudo espera; tudo suporta...
   Parece utopia para você? Talvez isso aconteça porque você já se acostumou com tudo isso que eu não quero me acostumar, com o desamor mascarado... Mas, no fim, ainda resta a esperança de que a gente aprende a não querer se acostumar. Deus existe, “todos” acreditam nisso, mas são poucos os que se agarram na sua fé e fazem Dela mais do que um simples acomodar-se com as tendências mundiais. Acreditar é, acima de tudo, jamais desistir de si mesmo. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Águas profundas


Olhos velados em mãos trêmulas.
Dualidade de corpos isolados,
De um lado o medo encarava
E do outro ele não podia ser aceito;
Dentro de cada peito um coração pulsava.

Bochechas tingidas de sangue
Os olhos eram meigos e assustados,
Corpo paralisado no êxtase
Pelos fantasmas de um passado.

Ele encarava a moça.
Sentidos aguçados ao desejo
Ao amor de um coração danificado.
Queria daqueles lábios um beijo
Que a moça havia recusado.

Quem é ela?
A mente de um corpo desejoso perguntava.
Um enigma tão transparente,
Um corpo afundado em água.
Afogava-se, o destemido que mergulhava.

Ele a observava da superfície
Por dentro um coração não revelado.
Distintos eram o corpo e a alma
Da moça pela qual ele se apaixonara,
Indevidamente, por fora d’água.

Eis que então ele mergulha.
E afundando a encontra,
Num abraço mudo ele a acalma
Águas profundas, agora rasas.

Por anos ele encarou aqueles olhos,
Até que numa libertação do abstrato
A moça lhe concedeu o beijo dócil.