quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Descontento

   Será que está doendo? Ou eu só estou tentando confundir-me em possíveis laços?
   Será que você ainda sente o que eu finjo não sentir quando sua voz bate de repente no ambiente silencioso?
   E será que sua calma em minh’alma é só sussurro mudo? E que meus olhos inchados nada dizem quando você finge não vê-los?
   E como eu poderia gritar? Se, muda eu já digo coisas que nem deveria. Se, muda eu já sou o que em mim não poderia. Se disfarço, escondo, embaraço. Se num aperto o nó desdenha amassado. Porque os cadarços de um papel já não são mais de um sapato.
   E se a lua desmanchasse com um soluço enganchado na garganta? E o medo se esgotasse com as estrelas caindo sobre minha janela? Você ouviria o que calei? Talvez com o toque sem sentido - mesmo que temeroso- você sentisse que mesmo longe eu sempre continuei a pronunciar seu nome para cada estrela que se manteve sob o meu olhar intruso.
   E quem mudaria os meus dias? O seu silêncio que me gritou esse tempo todo o descer de minhas lágrimas escondidas? Os seus olhos disfarçando a única saída? Quem sabe seus braços cruzados de quem com a chave na mão nada pode fazer?
   E se os sons fonéticos mesmo sendo freados ao chegar à ponta da língua fossem adivinhados pelo seu ardor de medo? Isso mudaria os meus dias?
   E se eu gritasse? E se eu chorasse? E se eu te implorasse? O esconder viraria o impasse do que visível já se fez desgaste?
   Mas, e se...? Ah, esquece!
   O descontento de amar-te sempre foi o meu maior medo e... A minha maior coragem.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Alice

   Inundada de qualquer coisa, ela era restos. Restos de si, do mundo, do desumano. Ela? Desfecho de insanidade, desencadeamento do medo, inútil sinal de queda, vestígios de algo infiltrável. A ela não cabia nada, não cabia esse mundo cruel, nela ele não bastava. Mundo? Coisa flácida!
   Ela queria mais, ela era mais! Não, nunca foi melhor... Os lugares eram os menos barulhentos, por que ela já era explosão; os amigos eram os mais tempestivos, porque ela já era silêncio; as caminhadas as mais árduas, porque algo ela tinha que aprender e o fácil pouco ensinava; os sorrisos foram os mais sinceros, porque ela sabe quem ela é; as lágrimas as mais escondidas, porque os outros não precisam saber como ela é; porque pena também é um sentimento que não cabe nela.
   E seus olhos angustiavam a escuridão de seu ser reflexivo. E a adrenalina sempre foi uma fonte inesgotável de disfarces. Alice? A fantasia se tornou real! Alice? Seus sonhos não foram irreais o suficiente para te manter dormindo! Alice? Chegou a hora de gritar ao mundo, porque o silêncio de um grito é o medo calado que grita a coragem que seu coração carrega!
   E em seus olhos o fogo da verdade queimou a muitos. E em seus lábios a voz da misericórdia trouxe muitos para a verdade. E Alice despertou para adormecer. E Alice foi mais do que ela imaginou ser, desmanchou os príncipes e ela mesma derrotou os dragões, porque ela tinha o Rei a seu lado e não se perde uma batalha quando alguém- cujo poder é incalculável- está ao seu lado! Alice, o mundo entrou em sono profundo, foi distorcido pelos inconscientes confusos de muita gente. Segue Alice, seu caminho está sendo traçado, e Ele seguirá seus passos.
   As nuvens não são feitas de algodão, mas se você imaginar, elas serão. E as princesas terão seus finais felizes, você não é princesa, mas Alice, se você acreditar na sua imaginação, será fácil construir na realidade um final feliz. E você encontrará algo mais que toda essa distorção, você verá algo mais que toda essa poluição. E você não mais terá que conviver com todo esse amor que não é amor, alguém já te disse o que é amar de verdade e todos os conceitos que venham depois desse é apenas o que as pessoas gostariam que fosse para fugir de suas fraquezas.
   Alice, você traz um mundo mágico dentro de você, guarde o amor dentro dele, para que o externo não o abale. Você é guardiã de você mesma. Você deve proteger a você mesma, porque Ele é um anjo da guarda muito fiel, e os anjos nos protegem quando nossas forças estão escassas. Os anjos nos protegem quando não estamos conseguindo ficar de pé e lutar.
   Alice, eu tenho um segredo para te contar! Estás a me ouvir? Então é o seguinte: Pode sonhar Alice, o mundo não é suficientemente forte para arrancar essa luz que você tem. Alice... Dorme querida, porque a fantasia é algo provinda Dele e é a forma mais divina que temos enquanto humanos. Vai, grita e veja até onde seu eco chegará- que ele toque a muitos e desperte a verdade, que essa verdade apareça em sua real face e em seu único sentido, a mentira não mais se vestirá de verdade. Vai, cala! E que seu silêncio seja capaz de transformar a muitos- que ele seja as mil e uma palavras que não existem para descrever o verdadeiro Amor, para descrever a Deus!


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ela é minha[s] quatro estações

   Eu nunca soube muita coisa sobre os passos que eu dava;
   Eu nunca vi o sol quando andava em sua direção. Nunca entendi nada sobre mim, acho que nem tentei. Eu só ia, e lá estava eu. Entre um galho seco e um deserto dentro de mim mesmo. Lá estava eu, mas por quê? Eu nem sei. E me amaram, diziam pelo menos. E me odiavam, mostraram por um tempo. Nem sei se fui eu mesmo, só sei que fui, talvez as sobras de um esquecimento...
   No outono me fiz folha, no verão eu virei bolha... Mas, em mim só restou brasa. Na primavera procurei flor, no inverno me vi só... Mas, em mim só sobrou pó. Onde estava o amor que tanto pensei sentir? Eu nem o conhecia! Deveria ser por isso, então, estava fácil demais.
   Eu a vi!
   Foi o que pensei, meu Deus, como um único ser pode fazer isso tudo? Ela me trouxe para mim, de uma forma angelical. Ela veio com mãos de flores, e eu descobri a primavera. Ora, a primavera era ela. Desse jeito, inteiro, um oásis dela transbordou em mim. Eu me senti cheio, mas ao mesmo tempo, inquestionavelmente me cabia muito dela.
   Nunca pensei que um único par de olhos fossem capazes de me dizer tanta coisa, quanta coisa! E eu segui seus passos, ela desejou que eu me libertasse, e eu não pensei duas vezes. As folhas secas, amareladas, foram ficando no caminho em dias de outono, e eu segui em frente, porque o outono era ela. E ela me era um céu inteiro que eu tinha na terra.
   Eu tinha pisado em muitas pedras por aí... Porque eu sorria enquanto sangrava? Talvez a resposta eu nunca  encontre, mas ela me mostrou alegria plena e estancou minhas feridas enquanto me apontou, no verão, a direção do sol. Então, segurei sua mão, porque o verão era ela. E, meu coração, só se aquecia com ela.
   Eu ainda me pergunto: Como pude ser tão leviano comigo? Como pude pisar em espinhos e achar que eram rosas? E eu tremi no arrependimento, estava fácil demais. Mas, no inverno, ela ainda me aquecia. Suas certezas, sua humildade, seu caráter, pareciam ser as únicas coisas que ela tinha... E ela as oferecia sem egoísmo algum. Ela nunca questionou meus erros, e quando me chamou pra chuva, eu fui, porque ela é inverno...
   Ela é ela o ano inteiro, eu sou dela por inteiro. Perco-me em seu abraço calmo, mergulho em seus carinhos, eu desenhei em mim seus traços. E foi amor, mesmo sem saber o que ele era. Foi amor, porque você foi meu verão, meu outono, meu inverno e primavera, enquanto o resto do mundo nunca me foi nada. Você foi minhas quatro estações. E você é meu deserto em plena tempestade. E eu me liberto, pra você, por mim, sem pergunta, sem resposta, sem mistério...


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Toque

   Fios frágeis de uma corrente elétrica altamente destrutiva. Fósforo aceso... Fogo consumindo lenta e vorazmente cada espaço. Chama inquieta a perpassar cada linha nervosa em mim habitante. Um.
   Olhos invasores e abstratos a percorrer por dentro da profundidade inefável de minhas íris. Pele tremendo no susto esperado, no medo desejado, na reação. Gotas de água fria a escorrer no âmago. Um toque.
   Lábios tímidos tentando exibir sons de palavras que já se desmancharam inteiramente. Sangue pulsando, correndo, sumindo, corando em bochechas. Sangue escorrendo de veias anestesiadas. Um toque seu.
  Vibrações internas. Frio na barriga, com total adrenalina instantânea. Músculo vermelho a pulsar rápido e lento no mesmo milésimo de segundo. Às vezes sente-o parando, falta o ar. Morte em segundos, vida a gritar. Um toque seu em.
   Movimento distraído, já calculado. Sensações distintas dentro de um único instante. Cabe em mim cada fagulha acesa que o orvalho desmancha; mesmo impermeável. Contradições inexplicáveis. Corpo a gelar, alma a arder, sangue a pulsar. Um toque seu em mim. 



                                                                                                                 - Para aquele que já não mais se esconde!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O abismo de nós dois

   E o que você faria se eu te dissesse que te amei enquanto te odiava?

   As velhas manias assumiram um lugar fora de meu domínio enquanto você despertava em mim algo desconhecido. E eu te odiei, mas do que a qualquer outro inimigo.
   Você é o inimigo de meus pilares, antes erguidos, hoje no chão. Inimigo de meus dias, antes tão enfeitiçados por suas loucuras. Inimigo das minhas veias, que já bombearam um sangue mais vermelho antes. Falso amigo de meus risos constantes. Inimigo da matéria, da substância, do abstrato de minha subjetividade, essa que você moldou com tantas características suas e que eu odeio.
   Você destruiu o meu sol, pintou com cores macabras minha lua. Derrubou meus muros e ergueu pontes, nas quais você, odiosamente me obrigou a atravessar sozinha. Seus olhos desenharam duas íris novas no meu, e hoje, te vejo sobre um reflexo único. E você me fez pular do mesmo penhasco infinitas vezes, e eu pulei porque te odiava, com um ódio superior a seus braços que sempre me seguravam a cada queda.
   E eu te amei por te odiar tanto. Te amei porque as pontes que você construiu me levaram a seus lares internos e, por me fazer atravessar sozinha, eu tive que me agarrar ao ódio para amar-te sempre mais. Eu te amei pelo ódio que senti quando você partiu, porque eu estive esperando por você em toda sua ausência. 
   E te odiei enquanto te amava, porque meu amor sempre foi ter a esperança da volta, a lembrança de cada noite, o choro em cada travesseiro, a queda sempre segura. O meu ódio foi odiar o seu amor quando o meu ser amava cada vez mais o teu ódio. E mesmo quando suas palavras doces me levavam para o abismo de nós dois, eu te amava, por que a mais pura verdade é que, eu te amei enquanto te odiava.
   E você me odiou por amar tanto o meu ódio...


Blq-
Edição Musical.