terça-feira, 28 de junho de 2011

Traços desvanecidos

Começou de lápis...
Curvas, traços e pilares.
Desenho torto, inacabado
Pelos lares internos, mal enfeitados.

Laços de fitas desfiadas
Olhos, lábios e palavras desdenhadas.
Malditas incertezas errantes
Levaram cada fagulha acesa.

Movia as mãos ágeis contornando,
Desviando do medo. Desencantando.
Ponta quebrada, alma borrada.
Desenho sem cor, com marcas.

Terminou com borracha.
Esvaziando-se desenfreada.
Agora vozes, vazios e faltas.
Papel em branco...
Com marcas que a borracha não apaga!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

[Des]Amarrando o laço


   Os dois mantinham os olhos fixos no vidro embaçado pela chuva insistente. Ela mantinha os braços cruzados de frio, de raiva. Ele segurava com força o volante, com frio, com raiva. Eles não se olhavam. O silêncio foi o que restou depois das palavras, acusações e cobranças depositados de um no outro. Silêncio que tortura, causa medo. Medo das palavras que poderiam surgir e do rumo na qual elas poderiam levar.
   Ele se queixa das cobranças dela, de suas mudanças de humor tão constantes, do medo que a impede de tentar e ele a ama. Ela se queixa da confusa frieza que os olhos dele demonstram, da falta de atenção, do trabalho sempre em primeiro lugar e ela o ama.
   Ele a ama pelo sorriso que ela desenha nos lábios corados. Sorriso meigo que só ele provoca e que acompanha a batida frenética do coração. A ama pelo piscar dos olhos. Olhos de menina frágil, miúdos e tímidos. Olhos de mulher faiscando, pintados a encará-lo. A ama pelo jeito de andar; passos distraídos, rápidos, lentos e ama parada também. Na verdade, até suas mudanças de humor o agrada, pois ela fica linda sorrindo, chorando, nervosa, calma, explosiva e até com raiva. Ele a ama pela pessoa que ela é e sorri enquanto ela dorme.
   Ela o ama pelo refúgio que ele a oferece quando está frágil. O ama por ele a conhecer tão bem, por envolvê-la num abraço terno e forte quando a vida fica sem sentido, e nesse momento ela se esquece que vive. Ela o ama por cada mensagem, ligação e o ama mais ainda pelas cartas. Sente que é dele, e que pertence a ele quando o olhar dele a desconcerta em segundos. O ama por escrever sempre uma história diferente todos os dias, quebrando regras, provando o incomum. E o ama pela pessoa que ele é e sorrir enquanto ele faz careta.
   Esquecem-se disso quando o orgulho insiste em se pronunciar. Palavras ácidas vão sonorizando-se para os ouvidos e os corações vão sendo esmagados. Olham para a rosa e só enxergam os espinhos, mas eles não estão ali, nunca estiveram. E eles sangram, não com os espinhos, mas com o orgulho que atiça espadas afiadas e eles se cortam.
   Dão início a uma luta sangrenta. E, rendem-se ao perceber que não há razão e pior, poderá não mais haver sentimentos também depois de tantos cortes. Rendem-se, largam as espadas, emudecem e não se olham. Sangram em silêncio.
   Lentamente criam coragem e voltam os olhos um para o outro. Ele com olhos de refúgio e ela com olhos de menina frágil. Novamente ele a abraça forte e ela esquece que vive. Chora e continua linda mesmo assim.

Pauta pra o Bloínquês-  74ª Edição Visual.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Violão, flores e vinho tinto


Um acorde soou.
Um sorriso acendeu.
Seus olhos fecharam
Castanhos, pretos e azulados.

Paredes riscadas.
Rabiscos noturnos.
Jarros quebrados
E um novo abraço.

Seu jeito, meio meu.
Meu carinho, todo seu.
Nossos laços em um destino,
Violão, flores e vinho tinto.

Os meus gritos são seus.
Seu silêncio todo meu.
Somos guerra e sangue,
O depois e o antes.

Eu o acorde, você a melodia.
Traz flores, meu amor.
Diz que me odeia, eu também finjo
Violão, flores e vinho tinto.

As estrelas caindo
Sem nenhum pedido.
O nosso avesso em contradição
Volto a ser frágil, me dá a sua mão.

O jarro sem flor,
Tanta dor nesse amor.
Sorrisos e lágrimas em carimbo
Violão, flores e vinho tinto. 


Olá meus queridos. Vocês devem ter percebido que o intervalo de postagens aumentou e que nem sempre eu estou passando nos blog´s de vocês para prestigiar vossos talentos. Mais uma vez jogo a culpa no tempo, mas não vou me isentar de tudo, também ando muito 'desleixada' e cheia de coisas na cabeça. Faculdade voltou    hoje, ou seja, menos tempo para o blog e para dormir. Haha. Quero agradecer desde já a paciência, carinho  e os gritos silenciosos de todos. Abreijos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Enlaçados


   Você possui uma vida vazia e eu o observo quando estás andando de um lado ao outro sem parar. Eu te vejo sentado no banco da velha praçinha toda noite e meu coração rodopia no peito ao ver sua imagem ali, triste. Mas, é só questão de piedade, eu sei.
   Suas mãos tocam-se umas nas outras, você está ansioso. Seus olhos fitam a lua, e era o que você fazia quando estávamos juntos, hoje ainda faz mesmo sabendo que eu não estarei ali, do seu lado. Mas eu estou te vendo e você não sabe. Eu estou te sentindo enquanto suas lembranças te perseguem.
   Você carrega no peito esse amor orgulhoso que acabou por me empurrar para longe. Mas, eu estou tão perto. Perto demais para tamanha distância interna. Suas mãos firmam-se no livro. Eu não acredito que você está lendo novamente essas palavras tortas. Torturando-se em meus abismos, nas minhas insanidades.
   Larga o livro, desiste de me procurar em linhas inacabadas. Arrepende-se e grita no silencio infernal que você carrega no peito. Encara o livro; aposto que você depositou nele milhares de palavras ácidas. Ah, você não chora. Mergulha a mão ágil no bolso, procura o celular, encara a tela... Desiste.
   Aposto que você se lembra do meu abraço- e eu me lembro de como era forte o seu- e você o queria de novo. Aposto que você lembra-se de meus risos e de como eu voltava a ser menina frágil em seus braços. Aposto que minhas besteiras fazem falta, e que você descobriu que me amava e que agora cada beijo já está distante. Distante de mais de você, de nós dois.
   Pega o celular novamente, digita o número decorado e hesita em apertar o botão verde. Morde os lábios, pensa na saudade e pronto, você me liga. Assusta-se em ver que não caiu na caixa postal como sempre. O celular vibra em meu bolso e agora sou eu quem hesito em apertar o botão verde, mas eu também penso na saudade.
   Segundos de silêncio mortal. Seu coração pulsa rápido e você procura palavras que não existem para induzi-las ao som fonético. Eu não me apresso em dizer nada, nem tentaria. Enfim, você produziu sons nervosos por cordas vocais trêmulas.
   - Eu... Eu não sei o que dizer.
   - Também te amo- respondi, porque eu nunca precisei de uma única palavra sua para ouvir seus sentimentos.
   E seu coração rodopiou nesse instante. Você voltou a olhar o livro e seus lábios desenharam um sorriso. Seus olhos fitaram a lua, os meus também.
   - Sinto sua falta- ele sussurrou.
   - Ela será preenchida.
   E seus braços voltaram a me enlaçar, eu voltei a sorrir... Voltei a ser menina; a sua.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Relento

Subjugou-se num relento qualquer.
Mãos trêmulas sobre pele pálida.
Passos intrépidos seguiam urgentes,
 Pelo labirinto defasado da alma. Fez-se medo.
Dolorosas chamas de solidão.
Levaram-lhe o corpo, a alma e o pão.

Um líquido quente e salgado na pele,
Amargo no âmago do desprezo.
Abaixo dos pés, somente o chão do abandono.
Inebriantes olhos de perca.
Levaram-lhe tudo, inclusive a ela mesma.

Perdeu-se no afã de reencontra-se.
Quis sonhar, mostraram-lhe a realidade.
Roubaram-lhe o corpo, defasaram-lhe a alma.
Restou-lhe somente o relento.
Lugar de poucos estímulos.
De medo somente, de um coração isento.


Convido vocês a conhecerem: 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Prazer, eu me chamo vingança.


   Ele encara o teto com seus olhos profundos. Revela um mistério íntimo para a lua, que entra tímida pela janela. Sua expressão é vazia e por detrás do vazio não sei se há medo ou culpa. Mas, meu amor, se for culpa você já não mais a sentirá.
   Seus dedos tocavam uma canção oculta no chão amadeirado. Deitado nesse cômodo vazio, você abraça novamente a solidão. Lembro que você me disse certa vez que a melodia solipsa é a mais fácil de ser tocada e a mais dolorida de ser ouvida. E sim, você tem razão...
   Baixei a máscara para o rosto. Batom vermelho na boca, que ele induza sangue. Puxei o zíper da bota preta, que ela induza a dor. Dei passos fortes e eles tilintavam com o barulho da madeira, que isso induza medo.
   Entrei armada, com uma 38 que eu guardo no peito, do lado esquerdo. Com a língua coçando pra puxar o gatilho. De repente seus olhos não fitavam mais o teto, eles viraram-se surpresos e um tanto assustados para mim.  Eu havia invadido seu cômodo vazio e solipso sem bater na porta.
   Ele abriu a boca, queria falar, mas calou-se. Ficamos alguns minutos a encarar o espaço entre a gente. Eu sou uma desconhecida mascarada e ele... Bem, ele é um desconhecido atrevido. Continuei a me aproximar com passos lentos e ele estuda cada gesto meu. Jamais me reconhecerá com tais observações, pois me vesti com outro personagem.
   Encostei. Meus passos agora forçavam os dele para trás, eu encostei-o na parede.
   - Quem é você?- ele perguntou finalmente.
   O beijei. Sim, eu agora havia saciado minha sede de retorno. E quem foi que disse que a vingança é um prato que se come frio? A minha se consome no calor de um beijo. Um beijo roubado que agora é devolvido.
   -Prazer, eu me chamo vingança.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Encruzilhada

Parada.
Ventos horizontais e verticais
Perpassam seu corpo gélido.

Mãos estendidas.
Passado em bandeja
Para ser entregue como morto.

Parada.
Visão observava o longe,
De um destino futuro que ela não mais
Aguardava.

E deixou:
Rastros de chumbo, saudade de ferro;
Um caminho apagado.

Parada.
Sem reticências, só recomeço.
No meio solipso de uma encruzilhada. 

sábado, 4 de junho de 2011

Ao Desconhecido


   Você se esconde entre os escombros de lugar nenhum. Anda de um lado a outro na rua vazia. Fica num meio termo de paredes invisíveis; debaixo de um teto que vive desmoronando; num esconderijo... No meu. Você fecha os olhos enquanto eu te encaro, e eu sei de tudo o que passa na sua cabeça nesse instante. Você fica mudo, e o seu silêncio outra vez me pertence.
   Surge da plena escuridão e me assusta outra vez. Desaparece e me deixa tonta; confusa com meus próprios sentimentos. Em cada esquina um rastro seu, de sua existência desconectada desse mundo alheio a nós dois. Porque você me mostrou um novo. E eu me balanço de um lado a outro nessa corda que fica entre esse mundo chato ao qual eu pertenço e o seu mundo estranho ao qual você me puxa.
   Seus olhos frios me alertam outra vez para o incomum, e você me odeia por eu te conhecer tão bem. E eu sou a única capaz disso. Sou a única a te puxar das sombras; a te fazer revelar a face sobre a luz do poste.
   Eu não sei onde você fica quando não está comigo, mas na minha frente eu te conheço bem. Você é o desconhecido de todos. Anda na noite, como um ladrão, e você me roubou. Deixou-me extasiada num mundo irreal.  Você alivia minhas dores e enxuga minhas lágrimas. Envolve-me em seu abraço terno e protetor, e você me ama por eu te conhecer tão bem. E todos desconhecem a sua existência. Ninguém desconfia desse desconhecido que eu conheço, ao qual eu pertenço.
   E você me alerta novamente que tenho que voltar ao meu mundo e me segura forte sem querer me deixar partir. Me abraça e juntos dividimos a mesma dor, mas nós dois sabemos que estamos ligados por algo mais forte que toda essa diferença.
   E você aparecerá novamente no escuro da noite, numa esquina qualquer, tentará se esquivar da luz do poste, me puxará para as suas sombras, se esconderá como um ladrão - Vai me roubar novamente... Porque meu desconhecido, eu te conheço muito bem.

- Ao que anda nas sombras noturnas,
 e me pertence.